Thursday, July 25, 2013

happy to be alive, happy to be back!


Comecei meu período sabático com muitas dúvidas e poucas certezas.
Termino meu período sabático com mais dúvidas e menos certezas.
Com a certeza de que quanto mais se vive e se explora (dentro e fora), menos se sabe. E mais se quer estar vulnerável e presente para viver esta vida da forma mais genuína possível. Com a certeza de que tudo está. Quase nada é.

Se eu queria vivenciar situações que mexessem com minhas crenças e minha estrutura. Se queria algo que fosse visceral, mas que também me desse segurança. Se queria vivenciar novos lugares dentro e fora de mim. E se queria tudo isso com muito amor. Sim, tive isso e muito mais.

Neste momento as palavras me faltam...
Vou ter saudades da sensação de estar sozinha no mundo. Comigo mesma.
Da liberdade que eu descobri e que, na verdade, já estava dentro de mim.
Meu coração também vai ter saudades dos contatos humanos tão genuínos que tive em lugares tão especiais. Agradeço a cada pessoa que cruzou meu caminho e que me ensinou tanto sobre esta vida. 

E estar de volta? Me dá medo? Sim, muitos medos. Mas acho que agora tenho uma tranquilidade e segurança bem maior para lidar com aquilo que vier. (será mesmo?)

Sabendo que muitas vezes a solução está mais dentro do que fora. Trabalhando dentro para concretizar fora.

Com muito amor e uma gratidão imensa ao universo que me proporcionou vivências que estarão para sempre comigo, na minha memória e no meu coração.

Com muita alegria por estar de volta ao país que é a minha casa,
Mariana

*

“Eu apenas queria que você soubesse

Que aquela alegria ainda está comigo

E que a minha ternura não ficou na estrada

Não ficou no tempo presa na poeira

Eu apenas queria que você soubesse

Que esta menina hoje é uma mulher

E que esta mulher é uma menina

Que colheu seu fruto flor do seu carinho

Eu apenas queria dizer a todo mundo que me gosta

Que hoje eu me gosto muito mais

Porque me entendo muito mais também

E que a atitude de recomeçar é todo dia toda hora

É se respeitar na sua força e fé

E se olhar bem fundo até o dedão do pé

Eu apenas queira que você soubesse

Que essa criança brinca nesta roda

E não teme o corte de novas feridas

Pois tem a saúde que aprendeu com a vida.”


Wednesday, July 24, 2013

um último registro de uma conversa especial


Estou me despedindo do meu relato de viagens, mas não queria encerrar sem antes registrar um diálogo super especial que tive com um monge durante o retiro de meditação Vipassana de 10 dias em silêncio.

Na manhã do segundo dia no Vipassana, acordei decidida a fazer minhas malas e ir embora. Toda aquela rotina de privações com as mais de 10 horas diárias de meditação estavam me deixando maluca. Estava sofrendo demais. Senti que aquilo estava tendo o efeito inverso em mim e me convenci de que talvez o Vipassana fosse um pouco demais pra mim. Tinha decidido ir embora e ir viajar sozinha por 10 dias no norte da Tailândia - nada mal ;-). Achei que iria aprender mais viajando do que meditando por 10 dias e de que talvez meu maior aprendizado no Vipassana seria engolir meu ego e dizer pra mim mesma “Querida, desta vez não rolou e tudo bem”. 
Enfim, já tinha feito todo o discurso na minha cabeça e me convencido a partir. Após o café-da-manhã fui falar com a assistente, uma tailandesa fofa, (a única do staff que falava inglês) e disse:

Eu: Poh (nome dela), eu acredito na técnica do Vipassana e agradeço a oportunidade que estou tendo, mas realmente eu acho que o Vipassana não é para mim. E infelizmente, eu DECIDI desistir.
Poh: Você sabe que se sair não pode mais voltar né?
Eu: Sei.
Poh: Mas posso perguntar por que você quer desistir?
Eu: Simplesmente porque estou sofrendo demais.
Poh: Entendi. Mariana, o único procedimento é que antes de você ir embora você converse com o monge (o professor no caso) na hora do almoço. Como é pra você esperar até a hora do almoço e falar com ele?
Eu: Posso esperar e falar com ele, sem problemas.
Poh: Ótimo.


Só o fato de falar com ela sobre a minha decisão já me fez relaxar. E por mais contraditório que seja, acabei tendo uma manhã bem boa no retiro. As meditações foram bem e minha cabeça estava mais tranquila. Após o almoço fui falar com o monge, já bem na dúvida de minha decisão.
Esperei minha vez e entrei na sala. O monge estava sentado esperando.

Monge: Olá, no que posso te ajudar?
Eu: Eu tive um dia muito difícil ontem.
Monge: É eu imagino. O primeiro dia normalmente é o mais difícil, pois ninguém está acostumado a meditar por tanto tempo.
Eu: Mas para mim foi difícil mesmo. Eu até chorei algumas vezes durante a meditação e no intervalo.
Monge: Por que você chorou?
Eu: Porque estava me sentindo triste e acho que um pouco sozinha.
Monge: Que bom que chorou. Isso quer dizer que em algum momento de sua vida você acumulou alguma tristeza e agora está saindo. Seu processo começou cedo e isto é ótimo.
Eu: É.. talvez... Mas está bem difícil. E eu até estava pensando em desistir hoje mesmo.
Monge: Não desista. Tenho certeza que você vai conseguir ficar aqui até o final e no último dia vai se sentir muito melhor.
Eu(já chorando): Você acha mesmo?
Ele deu um sorrisinho, ficou em silêncio por uns 3 segundos e disse: Sabe Mariana, quando EU fiz este curso pelo primeira vez eu também pensei em desistir e, na verdade, quase desisti.
Eu: É mesmo?
Monge: Sim.
Fiquei um pouco em silêncio. Olhei para a assistente que estava do meu lado (traduzindo nossa conversa) e disse "ok, vou ficar mais UM dia".
Monge (achando graça do meu "UM"): Fico Feliz. Se precisar, venha de novo aqui.

Saí da sala chorando alto e andando rápido, me sentindo a brasileira desequilibrada causando no meio das tailandesas disciplinadas. A assistente veio atrás de mim. Ela me chamou e toda fofa disse Mariana, seu processo começou cedo e isso é bom. Mas tenha paciência que você vai entender. Tente não reagir às suas emoções”. Eu pensei “como assim não reagir às minhas emoções!?”

Só fui realmente entender isso... alguns dias depois. Sim, acabei ficando mais 1, 2, 3, 4.. até o décimo dia. E cada dia era um dia. Muita coisa diferente aconteceu durante o retiro e visitei o monge mais uma vez no sexto dia e conversei com a assistente outras 3 vezes.(Digamos que dei uma causadinha no Vipassana)!
Mas posso dizer que foi uma das melhores experiências que tive neste um ano e ainda estou aprendendo com ela. Acho que vou continuar aprendendo por um bom tempo. Agradeço demais aquela primeira conversa que tive com o monge. E mais do que as palavras dele, agradeço ao olhar que recebi. Acho que foi o grande presente que recebi na Tailândia.

Tuesday, July 23, 2013

no trem chegando em Londres


Fui de trem do norte da Escócia até Londres. Durante a viagem sentei na mesa com um londrino, pai de 2 filhos quase da minha idade. Para minha surpresa (já que os ingleses são mais fechados), ele se apresentou e começou a puxar assunto comigo. Quando contei que era brasileira e estava no final de uma longa jornada, ele se entusiasmou e tive uma incrível e inesperada conversa.
Ele me perguntou coisas que muitas pessoas que conheci nestes meses me perguntaram mas com um entusiasmo e uma curiosidade que me fizeram refletir e relembrar muito do que vivi.
A primeira pergunta clássica surgiu. Por que você decidiu (largar tudo por um ano e) viajar? Por incrível que pareça, a resposta a esta pergunta era de fácil entendimento. Parece que dentro de qualquer ser humano há a vontade de viajar, ver o mundo, se sentir mais vivo, se libertar. Dizia que era um sonho que estava realizando e que queria me ver totalmente sozinha, sem meus confortos, numa cultura completamente diferente. De certa forma, para todas as pessoas que respondi a esta pergunta, sempre me pareceu haver uma compreensão e às vezes até uma empolgação na onda do é eu sei o que você está falando”. Outra segunda pergunta era se havia  acontecido algum evento drástico ou algo grande em minha vida para eu dar o estalo da viagem. E eu tinha que decepcioná-los, sem ter uma história incrível para contar, com a simples resposta do não, nada grande aconteceu, não saí fugida de nada, muito pelo contrário”.
Depois daí, normalmente perguntavam por onde eu havia passado e para aonde ia, se viajava sozinha, porque sozinha (essa era clássica no oriente mais conservador, onde mulher viajando sozinha é meio estranho), porque escolhi aqueles países, como me bancava, o que fiz nestes lugares, e por aí vai. Havia um misto de curiosidade e grande entusiasmo que eu adorava. Me lembrava do que estava fazendo. Me fazia valorizar tudo aquilo que eu estava passando nos momentos em que eu me esquecia. Naqueles momentos em que eu me preocupava. Naqueles momentos em que eu estava procurando um sentido quando na verdade o sentido já estava lá, na beleza da própria busca, na coragem de estar fazendo, no frio na barriga.  
O londrino do trem foi além nas perguntas e me perguntou o que me fazia continuar viajando da forma como viajei, qual era o combustível que encontrava, o que me tocou de verdade por onde passei e o que eu havia aprendido. Nunca tinham me perguntado isso desta forma. Tive que pensar. Acho que a resposta é um misto de muita coisa. Mas sem dúvida nenhuma uma das coisas que mais tocava meu coração e me fazia agradecer eram as pessoas. Era a simplicidade do contato humano com pessoas que às vezes nem falavam inglês. Era a simplicidade do senhorzinho indiano que me vendia verduras, a situação das mulheres indianas com quem trabalhei, as crianças curiosas nas Filipinas, a humildade e alegria do povo cambojano, a simplicidade dos nepalenses, a força e serenidade dos tibetanos.. Sentia uma compaixão que não tinha preço e nunca vai ter. Senti uma compaixão pelas questões humanas que espero nutrir para sempre. Era a mágica entre eu e o outro que dá mais vontade de viver e compartilhar a vida. Aquela mágica que às vezes duram segundos, mas traz uma verdadeira interconexão entre nós seres humanos. Era como redescobrir que lá no fundo, mesmo que os caminhos sejam diferentes, o que buscamos é a mesma coisa.
Viajar também me fez valorizar as pessoas que amo e de quem estava longe. Me fez amar mais a minha família de uma forma que não sabia. Me fez chorar no meio de meditações por lembrar da minha mãe e de meu pai, mas não por saudades, por gratidão. Também me fez valorizar mais meus amigos que tanto amo.
E tudo isto também trouxe mais compaixão à mim mesma. Pelos meus medos, minhas inseguranças, minhas irritações. Me trouxe mais amor pelos outros, mas também à mim mesma. 
E que assim seja.

Wednesday, July 17, 2013

Comunicação Não-Violenta e o norte da Escócia


Há uns 3 anos atrás, durante 10 meses, fiz um curso que chamava Ecoformação. Era uma investigação sobre novas maneiras de se relacionar com o mundo, com as pessoas e com o meio em que vivemos de forma mais sustentável. Em um destes finais de semana em que estive mergulhada no curso, tive meu primeiro contato com a “Comunicação Não-Violenta. Dominic Barter, a principal referencia do tema no Brasil, esteve conosco durante estes 2 dias introduzindo os conceitos e um pouco da prática do que estas 3 palavras representam. Achava que CNV fosse algo muito na linha do “vamos todos dar as mãos e sermos felizes”. Algo interessante, mas meio ingênuo, romântico, sem intensidade. A minha feliz descoberta foi compreender que a Não-Violência é muito mais que a pura ausência da violência. Tive os 2 dias mais intensos, desafiadores e incríveis de todo o curso, mas sem saber porquê, acabei não me aprofundando no assunto na época. Acabei deixando ele guardado numa caixinha especial para, quem sabe um dia, ser redescoberto. A minha sorte foi que as sincronicidades que um período sabático permite, ainda mais quando se está na Índia, aconteceram. Após quase 2 anos sem nenhum contato com este tema, a Comunicação Não-Violenta apareceu de novo em minha vida. Por 3 meses mergulhei de cabeça no tema enquanto estava morando em Auroville-Índia. E foram estas mesmas 3 palavras que me trouxeram a um dos lugares mais incríveis que passei neste último ano: a comunidade/ecovila de Findhorn, no norte da Escócia.

A curiosa história de Findhorn
A Findhorn Foundation Community” nasceu em 1962, quando Peter, Eileen e Dorothy foram morar em um trailer (caravan) na baía de Findhorn. Eles não tinham a intenção de criar nenhuma comunidade, mas a plantação de repolhos orgânicos gigantes deles começou a atrair um número grande de pessoas interessadas em entender como aquilo estava acontecendo. As pessoas começaram a visitar, trabalhar e a morar com eles e, aos poucos, a comunidade foi surgindo. Atualmente, moram mais de 350 pessoas no local, e eles próprios se definem como uma comunidade espiritual, ecovila e centro de educação holística. Eles ainda cultivam vegetais e incríveis jardins, mas o foco principal é educação. Milhares de pessoas do mundo todo vão à Findhorn a cada ano para fazer algum dos muitos cursos que eles oferecem e ter a comunidade como sala de aula. Findhorn é um laboratório vivo de novas formas de viver. Em todos os sentidos. E fazer um dos cursos que eles oferecem é uma maneira de viver um pouco do dia-a-dia deles.
Antes de conhecer ecovilas, achava que estas comunidades pudessem ter um estilo de vida meio hippie” ou “alienado”. Posso afirmar que as que eu conheci, estão longe desta descrição e, inclusive, são extremamente conectadas e ativas no mundo. Findhorn é um bom modelo disso. A ecovila, por exemplo, trabalha junto a ONU em diversas áreas e recebe todo ano professores e alunos de universidades como a de Massachusetts.

O lugar é lindo, os espaços e construções são fantásticas e as acomodações são confortáveis. Há uma valorização da natureza e do ser humano. É também um lugar para o silêncio e a reflexão. Mas também para a interação com o outro, aonde as relações humanas são vistas como uma prática espiritual, embora não haja nenhum credo específico. Há cursos dos mais diversos, mas todos focados neste novo” modo de vida que está sendo construído e já está em constante transformação. Acho difícil eu pensar em alguém que não gostaria de conhecer Findhorn. A única implicação seria por questões climáticas do norte da Escócia. Mas recomendo QUALQUER pessoa que conheço, se puder, a ir visitar um dia este lugar. E se você estiver questionando o modo de vida que leva na sua cidade, trabalho, em suas relações, com certeza Findhorn vai fazer algum sentido para você.

Abaixo coloco algumas fotinhos deste lugar tão especial e que tem como cenário a beleza e a tranquilidade do norte da Escócia. Já me deu saudades de lá..


Essa é uma das construções mais incríveis que já vi. É um santuário.



 




A caravana original, aonde começou a comunidade.

Universal Hall. Prédio que é um teatro super equipado, um café e no subsolo há várias salas, um santuário e uma sala para aula de danças.

Casas feitas a partir de barris de wisk reciclados.

Umas das casas para visitantes, aonde eu fiquei hospedada!

Community Center. Sala para cursos e atrás há uma cozinha grande com espaço para comer, relaxar, usar internet, etc.

Lojinha.